25.01.1934 - MONUMENTO DO GRAVI

   Em 9 de Julho de 1934, houve na cidade de São Paulo, um grandioso evento, comemorando os 2 anos da Revolução Constitucionalista. Todos os Batalhões que lutaram na maior guerra civil da história do Brasil participaram do grande desfile militar ocorrido naquela capital.
   Mas, o que poucas pessoas sabem, é que meses antes, mais precisamente em 25 de Janeiro de 1934, quando a cidade de São Paulo completava seus 380 anos, na pequena cidade de Itapira, figuras importantes da capital paulista, presenças fundamentais durante a Revolução Constitucionalista estiveram presentes para o primeiro grande evento em homenagem aos soldados que tombaram pela causa constitucionalista de 1932. Lembro aos leitores, que o monumento do Morro do Gravi foi o 1º  monumento em todo o estado de São Paulo, incluindo a capital, erigido para homenagear os soldados mortos nos campos de batalha da Revolução Constitucionalista de 1932. Hoje, completam-se 78 anos deste grade evento que mobilizou toda a região de Itapira e Mogi Mirim, espero agradá-los com este novo artigo:

Talvez a primeira fotografia do Monumento do Gravi, feita em 1934
   Logo após o fim do Comando Militar na extinta "Prefeitura Militar de Itapira", em 1933 a Prefeitura Municipal de Itapira voltou à suas atividades costumeiras. Em 14 Julho de 1933 em sessão na Câmara Municipal com a presença do Cap. Francisco Rocha, Prefeito de Itapira, foi apresentada uma petição inicial, com a proposta de transladação dos restos mortais dos soldados mortos durante as batalhas pela região de Eleutério e Gravi, para o Cemitério Municipal de Itapira:
"... Exmo. Sr. Cap. Francisco Rocha, Prefeito Municipal de Itapira. As abaixo designadas diretoras da Comissão Pró-Transladação dos Corpos dos Soldados que tombaram no campo de luta, durante a Revolução Constitucionalista deste Estado, quem respeitosamente representam a V. E. sejam-lhes que cedidas duas quadras de terreno no Cemitério local, afim de ali ser construído um jazigo, que perpetue a memória dos mesmos (...) do povo de Itapira dos seus companheiros de luta, representados pela Federação dos Voluntários" - (Trecho original da Ata da Câmara Municipal de Itapira, mês de Julho de 1934).



|INFORMAÇÕES SOBRE A EXUMAÇÃO DOS CORPOS EM OUTRO POST|

Raríssima fotografia do Dr. Hortêncio Pereira da Silva (com o crânio em mãos), durante a exumação dos restos mortais enterrados ao lado das trincheiras no Morro do Gravi.



   Após essas primeiras idéias de homenagear os soldados mortos em batalha, foi decidido pela criação e construção de um "obelisco" no Morro do Gravi, ao lado das trincheiras, na divisa das cidades de Itapira e Mogi Mirim. Muitos preparativos foram feitos, as notícias correram pelas cidades da região e até mesmo pela capital, São Paulo!


A INAUGURAÇÃO DO OBELISCO: 

  Chegado o grande dia, a cidade de Itapira parou! Uma Quinta-Feira ensolarada! O evento, foi marcado para as 15h, mas iniciou-se pouco antes das 16h, devido ao pequeno atraso da comitiva vinda de São Paulo. Caminhões, automóveis, jardineiras levando e trazendo gratuitamente pessoas de Mogi Mirim ao morro do Gravi.
   O obelisco, foi projetado por José Rosatti; quem tomou a iniciativa para sua construção,foram Dr. Paulo Teixeira de Camargo e nosso querido Cel. Francisco Vieira, que também contaram com auxílios financeiros das populações de Itapira e Mogi Mirim e co-participação de ambas as Prefeituras.

Croqui original
   Era assim retratado na época de sua inauguração:
"...Como tivemos já ocasião de noticiar, o obelisco mede cerca de três metros de altura, tendo, no topo, a efígie, em bronze, de um soldado paulista, ostentando o tradicional capacete de aço, com as inscrições: “Lutei por São Paulo – 9 de Julho de 1932”, e logo abaixo, no corpo da peça: “ À memória dos soldados Paulistas que aqui tombaram, defendendo o solo sagrado da Terra Bandeirante, na mais gloriosa de todas as campanhas, o povo de Mogi Mirim e Itapira. 4 de Setembro de 1932 – 25 de Janeiro de 1934”. “... E o seu sangue generoso, redimiu uma terra escravisada...” |JORNAL A COMARCA-MOGI MIRIM|
   O próprio jornal A Comarca, de Mogi Mirim, publicou um telegrama de uma das celebridades que compareceriam no dia do evento:

“Araçatuba, 22 de Janeiro de 1934. Dr. Paulo Teixeira de Camargo. Mogi Mirim.
Plenamente solidários com as manifestações em memória dos bravos soldados constitucionalistas, mortos em combate, no Morro do Gravi, a 4 de Setembro de 1932, em defesa da sublime causa, a serem prestadas pelo povo de Mogi Mirim e Itapira, com erguimento do obelisco no campo de luta, ex oficiais, representando a segunda Companhia, sub comando, intendência, e corpo médico do 4º Batalhão do Regimento 9 de Julho, constituído pela valorosa mocidade de Araçatuba, e que tomou parte saliente no combate, testemunhando a vontade de todos ex-combatentes,  aplaudem sobre altamente patriótico gesto dos organizadores, enviando esforços para fazer-se representar  no ato memorável da inauguração, no dia 25 de Janeiro p.
Dr. Dario Guaritá, ex-cap. Sub. Cmt. 4º B.; Paulo Leite Ribeiro, ex 2º te. Comt. 2ª Comp. ; Paulo Sales Oliveira, ex 2º te. Comt. 3º pelotão; Dr. Valadão Furquim, ex 2º te. Comt. 2º pelotão; Nevio Camargo, ex 2º te. Comt. 3º pelotão; Dr. José Teodoro de Lima, ex 2º te. Intendente; Dr. Souza Lima, ex 2º te. Médico.”.

Segundo os jornais da época, mais de duas mil pessoas estiveram presentes, vindas de Mogi Mirim, Itapira, cidades da região e da capital paulista.




   Entre tantas pessoas, destacaram-se: os Drs. Francisco Alves dos Santos Filho, Secretário da Fazenda; Dr. Adalberto Bueno Neto, secretário da Agricultura; Dr. Antônio Pereira Lima, representando o Clube Bandeirante, major Antônio Pietscher, que vieram de São Paulo especialmente para assistir à solenidade; Dr. Alcides da Silveira Faro, Juiz de Direito de Itapira; Anacleto de Magalhães Pereira, prefeito de Itapira; Ataliba da Silveira Franco, Prefeito de Mogi Mirim, cônego Moysés Nora e padre Ciriaco Scaranello Pires, vigários de Mogi Mirim e de Lindóia; Dr. Carlos de Rizzini, ex-deputado pelo Estado do Rio; Dr. Salomão Jorge, médico em Petrópolis; Enéas R. Furtado, Dr. Antônio Vita, prefeito de Socorro; Alonso Dantas Pereira, prefeito de Amparo, estes representando o Batalhão 23 de Maio; Coronel Francisco Vieira; ex-combatentes de diversos batalhões constitucionalistas.


Houve vários discursos, o do Dr. Paulo Teixeira de Camargo, foi longo e entrecortado de aplausos, sendo o orador muito cumprimentado ao terminar. Quem também discursos foi o Dr. Pereira Lima, orador do Clube Bandeirante de São Paulo; Dr. Salomão Jorge, médico fluminense que estava em Itapira; o Grande Major Antônio Pietscher, ex-comandante do Batalhão Paes Leme, que atuou por todo o Setor Leste, inclusive nas batalhas de Eleutério e Gravi; outro grande orador, foi o Dr. Alcides da Silveira Faro, Juiz de Direito de Itapira, que discursou sobre a importância da Revolução...



   À partir deste momento, uma grande tempestade apareceu no horizonte vinda de Itapira, era a vez do C|ônego Moysés Nora falar ao povo, aproveitando o momento, citou o ocorrido:
"...Exmos. Secretários do Governo; senhores e senhoras presentes. Aquele temporal que d’acolá se avizinha, está-nos convidando a que nos vamos embora. Certos de que, aquelas chuvas que se apressam a vir refrescar os campos os campos, como sangue da terra, são também, agora, lágrimas vindas do céu, que correm a beijar este obelisco que entregamos à história de Mogi e Itapira, em homenagem aos voluntários paulistas, aqui mortos nas trincheiras do morro do Gravi, gritando aos ouvidos do Brasil inteiro!
- São Paulo morreu? Não: - São Paulo venceu; viva São Paulo!..."  Depois do vigário, o último a discursar foi um ex-combatente: Aldrovando Condé Scrosoppi, da cidade de São Paulo.




   Preciso adicionar a este artigo parte do belíssimo discurso do Cônego Moysés Nora, referindo-se ao nosso Patrono, Cel. Francisco Vieira, são palavras carinhosas e incríveis, sobre o trabalho na linha de frente deste grande líder da Revolução Constitucionalista de 1932:

"...Por entre o torvelhinho daqueles milhares de criaturas que lá foram assistir à festa... há um homem que por lá andava... que ali, entre os vivos, em 1º lugar chamava a atenção de todos...
- Um homem que é uma lenda completa que nos ficou da Revolução de 32, em terras de Mogi Mirim e de Itapira...
- Um homem que, envergando também uma farda, com ela se rolava nos escaninhos dificultosos das trincheiras de Eleutério, de Rio do Peixe e do Gravi... distribuindo munições e sustentando fogo serrado, contra os inimigos que avançavam à traição forgicada por vendidos...
- Um homem que durante 3 meses não soube o que é o conforto de um leito no seu fidalgo lar...
- Um homem que colocou ao dispor da Revolução todos os seus haveres, toda a sua admirável influência, todos os seus trabalhos, em vigilância constante e aturada...
- Um homem que, quando já todos os paulistas haviam retirado das trincheiras do Gravi, eu ainda o encontrei à frente de um batalhão de cavalaria... pelos caminhos escusos das fazendas, avisando e noticiando a derrocada aos seus voluntários dispersos... agremiando, a todos dando instruções, a todos cumulando de afetuosa coragem para a gloriosa “batalha final” que, sob o magistral comando do invencível Romão Gomes, de novo ia ser travada nas sinuosas trincheiras das estações de Carlos Gomes e de Tanquinho...
- Quem será esse homem, fabricado de coragem e de valentia, e cozinhando, durante 3 longos meses, ao fogo torturante do sofrimento, caldeado pela argamassa da vitória sonhada?
- Esse homem, eu o conheço, todos vós o conheceis, leitores: - Foi Chico Vieira, é Chico Vieira, de Itapira!
- Se os mortos merecem de nós essa apoteose brilhante que no dia 25 lhes levantamos ao lado das trincheiras do Morro do Gravi; entre os vivos ficou-nos Chico Vieira que, pelo seu caráter e homem de comando, bem nos serve de sadia luz, para alumiarmos com ela a estrada da nossa vida...
- Viva Chico Vieira!..."  CÔNEGO MOYSÉS NORA


   Terminado esse grandioso evento, a comitiva de São Paulo seguiu para Mogi Mirim, onde visitaram o Clube Recreativo, cumprimentando seus sócios e diretores; após a visita, eles se dirigiram ao Hotel Brazzia, para  um jantar oferecido pelo mesmo, depois do jantar, foram à redação do jornal A Comarca; depois da breve visita, terminaram a noite no belo Clube Bandeirante, onde houve um "Baile Paulista", oferecido pelo clube e pela alta sociedade de Mogi Mirim e Itapira.



(Mais informações sobre este grande evento que foi a inauguração do Monumento do Morro do Gravi, com fotografias originais, capas e matérias de jornais e discursos completos, estão presentes na pesquisa intitulada "Nas Montanhas de Eleutério", que aguarda apoio para lançamento em forma de livro.)
   
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Eric Apolinário
Pesquisador - |1932|Frente Leste|
e-mail: trincheira1932@gmail.com

whatsapp: (19) 98102-7351

Comentários

  1. Gostei da matéria Eric. Muito rica em detalhes e documentos. Não sabia que foi o primeiro monumento à batalha. Itapira realmente promove ações que sempre estão à frente das outras cidades. Parabéns Itapira.

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  2. Olá Marcio!
    Realmente, obtive ainda maiores informações sobre esse grandioso evento, que infelizmente não tive tempo de postar tudo! Mas certamente, não faltarão oportunidades! Obrigado pelos parabéns!
    Fique certo de que maiores informações inéditas estão por chegar!
    Obrigado! Abraços!

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    1. Gostei muito da materia,riquissima em detalhes.Ja estive no Gravi e o lugar e incrivel.Conheço as trincheiras de Eleuterio mas nunca consegui achar algum vestigio no Gravi.Sou do Guaçu e tambem me interesso muito na Revolução.Abraços.

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    2. Olá amigo de Mogi Guaçú! Envie-nos seu contato! Vamos conversar!

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  3. A Sociedade Veteranos de 32-MMDC parabeniza o jovem ERIC, que, aos 22 anos, relembra os episódios da EPOPÉIA DE 32, como se estivessem acontecendo agora. A cidade de ITAPIRA engrandeceu-se, ainda mais,
    com os trabalhos do Presidente do Núcleo de Correspondência desta Sociedade. Episódios esquecidos estão renascendo pelas mãos do ERIC, PRINCIPALMENTE quando estamos comemorando os 80 Anos da Revolução Redentora de 32. PARABÉNS!!!!

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  4. Meu pai, Clemente Pereira, então médico recém-formado, participou do Batalão Paes Leme, em Cruzeiro. Foi promovido por heroísmo.

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