|Vidas de 32| TENENTE MARIO CINTRA

Na galeria dos nomes do voluntariado itapirense que honram as páginas inesquecíveis de 1932, Mario Cintra figura em lugar de destaque.
Bon vivant, nos dizeres de sua filha, a saudosa Amonclayr Moraes Cintra, o viúvo Mario ao estalar o levante de 9 de Julho de 1932, com a compulsória formação de batalhões de voluntários, alistou-se na 1ª Companhia de um batalhão constituído em Amparo pelo padre Luiz de Abreu e que recebeu o nome de 23 de Maio. Nele, Mario atuou com seus companheiros de farda no setor da Baixa Mogiana, especialmente em Itapira, nas montanhas de Eleutério e, mais tarde, na defesa de Campinas.

O jovem Mário Cintra no tiro de guerra de Itapira
 Conforme relatos da filha de Mario Cintra, o pai alcançou durante a campanha nas fileiras do exército formado pelo valente padre Luiz o posto de tenente, denotando com isso o reconhecimento da oficialidade constitucionalista por sua atuação no campo de luta. O notável combatente já tinha certa experiência com a vida militar antes da revolução, pois fizera parte da Guarda Civil de São Paulo, corporação fundada em 1926 por ordem do governador Carlos de Campos e que tão importantes serviços prestou à coletividade paulista até sua fusão, na segunda metade dos anos 60, com a Força Pública, dando origem à atual Polícia Militar do Estado de São Paulo.


O tenente Mario Cintra trazendo as divisas de sua bravura

Tomando por base o depoimento de Amonclayr Moraes Cintra, sabemos que seu pai era figura muito chegada ao ilustre Coronel Francisco Vieira e, sendo seu braço direito, foi por ele acolhido no esquadrão de cavalaria constituído pelo nobre cabo de guerra de Itapira que serviu fielmente à Causa Paulista em missões arriscadas de patrulha e reconhecimento, avançando em território inimigo para colher informações acerca da movimentação e das posições das tropas federais que avançavam via Jacutinga, Minas Gerais. Mario, aproveitando um breve descanso concedido aos combatentes do Batalhão 23 de Maio, solicitara ao coronel Chico Vieira o ingresso nas hostes do notável esquadrão conforme noticiava em 14 de setembro de 1932 o periódico campineiro Diário do Povo nos seguintes termos:

“A unidade do homem de aço (apelido dado ao coronel Francisco Vieira), apenas organizado, já constituiu um alvo de confiança nos arredores de seu setor. Senão atente-se ao fato do engajamento voluntário do tenente Mario Cintra e soldado José Sarkis, pertencentes ao batalhão “23 de Maio”, que o procuraram quando este batalhão encontrava-se em repouso”.
À frente de uma patrulha nas montanhas de Eleutério, Mario Cintra recebe das mãos do coronel Francisco Vieira o que supomos ser um salvo conduto
Tendo caído Itapira e Mogi Mirim nas mãos das tropas federais arregimentadas por Vargas para combater a rebelião paulista, os contingentes constitucionalistas foram posicionar-se às margens do rio Jaguari, para a defesa do setor de Campinas, importante ponto de entroncamento rodo-ferroviário. Atuou naquele teatro de guerra, com os demais batalhões, o Esquadrão de Cavalaria Chico Vieira, composto de 50 cavalarianos, entre eles, o tenente Mario Cintra, contribuindo com a resistência paulista na defesa dos ideais de 9 de Julho. 


Da esquerda para a direita: soldado não identificado, Chico Vieira, Mario Cintra, soldado não identificado e Padre Lázaro Sampaio de Mattos

Por sua audácia à frente do esquadrão foi caçado, após o final do conflito, por tropas federais conforme os relatos de sua filha. A casa de Mario em Itapira chegou a ser revistada por um destacamento de soldados baianos que a vigiaram durante vários dias na esperança de capturá-lo, sem, contudo, conseguir seu intento. Com a ajuda de Chico Vieira, o tenente escapara para São Paulo onde permaneceria por longos meses até sentir-se seguro para retornar ao lar que, em 1950, iria se despedir desse bravo combatente, morto aos 50 anos de idade.



Documento de sua filiação à Associação dos Ex-Combatentes de São Paulo 




 










Nota: todas as imagens aqui apresentadas pertencem ao acervo da família de Amonclayr Moraes Cintra.

Texto: Rodrigo Ruiz

Eric Apolinário
Pesquisador - |1932|Frente Leste|
e-mail: trincheira1932@gmail.com

whatsapp: (19) 98102-7351

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